3 de jun. de 2012

MATURIDADE

 
Sim, eu sinto: já não sou mais o mesmo!
Agora, às vezes, pensando a esmo
lembro do que foi belo e não volta.
A casa barulhenta, os sonhos, o almoço
Lembram-me que um dia já fui moço.
Hoje não passo de um poço de revolta.

 
Será que valeu tudo que fiz?
Será verdade que um dia se foi feliz
ou será que foi tudo um sonho confuso,
um pesadelo obscuro que desfalece?
Vamos diminuindo, e se pensa que se cresce
Num louco redemoinho difuso.

 
O que valeram a infância e os amores,
os sacrifícios, as lutas, as decepções e as dores
que fizeram com que aprendêssemos o quê?
Conseguimos respostas às nossas perguntas?
Acaso bondade e recompensa andam juntas,
se continuamos a tudo indagando “Por quê”?

 
Tantos grandes passaram pela vida terrena!
Tantos mostraram o quanto a humanidade é pequena!
Esquecidos foram todos por igual!...
E se bons e maus ficaram na história
(Se é que dos maus não se guarda mais memória!)
O que valeu fazer o bem e não o mal?

 
E se é verdade que se guarda na Terra
muito mais os que fizeram a guerra,
perpetrando atrocidades, fazendo o que não se faz...
E se reinou mais a mentira e a aleivosia;
e se valeu tão pouco quem plantou alegria
vou sentindo que o bem já não me apraz!

 
Vou levando a vida, vou vivendo; o que resta?
Se ao apagarem-se as luzes da festa
o que era para ser grande nos apequenou?
Sobra seguir neste mundo demente,
engolir o idiota, aturar o insolente,
pois o bom e o mau, por igual, se passou...

 
A maturidade que julgamos enfim alcançada
nos mostra não mais: ela não vale nada!
Não foi mais que uma doce quimera!
Tanto lutamos para tanto conseguir
e no próximo instante já temos que partir
para o que julgamos ser... e não era!

 
Roberto Curt Dopheide