26 de mar. de 2012

CADA POVO TEM O GOVERNO QUE MERECE?

Roberto Curt Dopheide

Quando eu era criança, observava como o dono da charrete chicoteava seus cavalos. Estes nem mesmo tinham diminuído o ritmo da marcha, nem a chicotada era forte, mas de alguma forma o cocheiro parecia satisfeito em desempenhar seu papel. Os cavalos, por sua vez, não aceleravam seus passos, e não fosse por um leve tremer de seus corpos, quase que com a única intenção de demonstrar ao cocheiro que sua chicotada não fora em vão, se diria que não tinham sequer sentido o impacto.

Olho o povo de meu país e acredito estar enxergando aqueles cavalos. Tão insensíveis já diante de tantos desmandos políticos quanto os cavalos das chicotadas. Nem bem conseguimos digerir o escândalo do café da manhã, já o do almoço nos é empurrado goela abaixo, mas continuamos insensíveis.

Encaminharam-me, dias atrás, um discurso de desalento com a vida pública do senador Jefferson Peres. Quanta tristeza em ver que os poucos exemplos de homens de princípios estejam tão desiludidos quanto eu! De alguma forma ainda era neles que eu depositava alguma esperança. Aí, olho na TV e vejo meu dinheiro sendo gasto em campanhas de utilidade de voto e fico estarrecido. Os slogans querem dar a entender que eu é que sou o responsável pelo fiasco de presidentes e parlamentares! “O seu presidente é igual ao seu voto” ou “Cobre as promessas do parlamentar em que votou”. Epa!

Meu voto não é analfabeto, meu voto sempre soube falar e escrever ao menos o português básico. Como cobrar as promessas de um parlamentar? Informava-me ao máximo sobre o candidato que mereceu meu voto. Lia, discutia, procurava ser o famoso “formador de opinião”... e de repente meu candidato, tão escolhido a dedo, não era eleito. A massa, mantida propositadamente desinformada, escolhia sanguessugas e outros bichos nefastos! Quando eu finalmente conseguia emplacar um candidato... o seu voto secreto em questões importantes o escondia no cômodo anonimato do “agradar a todos”... Quando o voto era aberto e eu lhe remetia um e-mail de protesto, um sub-assessor do assessor do assessor me respondia, provavelmente num hilário histórico-padrão, um cômodo e lacônico “Agradecemos sua colaboração!” ou um “Estamos analisando sua proposta”, para depois nunca mais ouvir falar do assunto. Nem ao menos me informavam que minha proposta tivesse sido vista como impraticável, por exemplo!  Que instrumento tem o pobre eleitor, após dar um mandato de 8 anos a um senador, por exemplo, para “cobrar” alguma mancada que este dê após 3 meses de mandato? Engoli-lo por mais 7 anos e nove meses, apenas isto! Depois, trocá-lo por outro com o mesmo risco ou pior, vê-lo sendo reconduzido pela massa mantida propositadamente desinformada. Mais 8 anos... Seis eleições de senador bastam para desanimar qualquer eleitor... são 48 anos que, somados aos 16 da idade mínima para votar, totalizam a idade de 64 anos.

E ainda querem fazer crer ao povo que a máxima do “cada povo tem o governo que merece” é verdadeira! O exemplo não pode vir do desinformado. O exemplo tem de vir de quem comanda, de quem tem nível intelectual mais avançado! Dizer que cada povo tem o governo que merece seria como dizer que cada filho tem o pai que merece. Seria colocar na mão de seus filhos de 8 ou 10 ou mesmo de 16 anos, apenas por constituírem a maioria numérica da casa, a responsabilidade de definir onde você vai trabalhar, morar e que carro comprar, por exemplo... e depois responsabilizá-los pelas conseqüências, eximindo-se comodamente de qualquer responsabilidade, pois, “cada filho tem o pai que merece”.