29 de ago. de 2011

GOSTO DAS MULHERES SIMPLES


Gosto das mulheres simples, das mulheres que são bonitas porque são normais e simples.

Me assusto um pouco com mulheres “perfeitas”. Comparo-as a um pôr do sol perfeito: ele me leva à contemplação apenas. Não consigo olhar um pôr do sol perfeito e imaginar-me  ao esmo tempo conversando, caminhando, rindo, chorando, abraçando, brincando, chupando um sorvete ou comendo uma pêra... só contemplando...

Mulheres de corpo perfeito são para contemplar...Procuro e gosto das mulheres simples porque sua beleza está na simplicidade e na aceitação de si mesmas.

A perfeição é um sonho e sonhos se desvanecem no ar. Gosto das mulheres simples, normalmente bonitas, porque elas são realidade. Elas são como o prato mais simples e gostoso na casa da mamãe. Mulheres perfeitas são com pratos chiques de um restaurante luxuoso de Paris: lindas quando contempladas, mas que não me acalmam o apetite além de inacessíveis aos seres humanos normais.

Tenho medo de tocar seios que parecem cristais de tão perfeitos. Seios normais, que talvez já amamentaram, transmitem um prazer de amor profundo, de vida e de entrega total.

Reluto em beijar bocas com dentes perfeitos de marfim. Parecem ter sido feitos só para sorrir e contemplar, não para beijar. Me distancio de lábios desenhados à perfeição, com medo de que quando falem, nada transmitam: têm beleza mas podem não ter conteúdo.

Tenho medo de acariciar coxas que parecem obras de arte e por isso só devem ser admiradas a uma certa distância. Entretanto, gosto quando estão lisas.

Temo fazer carinhos em cabelos que parecem plumas de deuses, cujo alinhamento e ordem podem ser comprometidos ao menor dos toques. Fico preocupado em que cabeças com cabelos perfeitos prefiram manter sua perfeição a receber um carinho. Gosto do cabelo das mulheres bonitas e normais, que podem ser tocados, acariciados, desarrumados e que ainda assim transmitem fascínio.

Fico estático diante de bundas arrebitadas e totalmente perfeitas – transmitem um quê de mulher-objeto, fruto de um consumismo que me assusta um pouco, atributo de dançarina de televisão, uvas da parreira mais alta, anel de diamante que não foi feito para usar. Gosto de bundas que possam ser tocadas, mordidas de leve, beijadas e apalpadas com sofreguidão!

Gosto de mulheres simples e bonitas cujo interior eu não vejo, mas posso sentir...mulheres perfeitas me transmitem uma sensação de vazio, de oco...

Tolero com gosto uma gordurinha na barriga pois isso me desobriga de também ser perfeito.

Gosto de uma ou algumas cicatrizes: são sinais de dores já passadas e quem já sofreu é mais sensível à sensibilidade. Não me importo com uma estriazinha ou um pouco de celulite, pois são sinais de que não estou lidando com uma escrava de seu próprio corpo, mas um corpo que se entrega como escrava àquele de quem ela gosta.

Vejo com bons olhos uma manchinha, um sinalzinho. Desde que o conteúdo seja gostoso, pleno e feminino, não dou valor excessivo à embalagem.

Gosto de mulheres carinhosas, ávidas e logo adiante calmas, que conheçam o momento do carinho, da avidez e da calma. Gosto de mulheres que me aceitam como sou sem a busca frenética por um super-homem que não sou. Gosto de mulheres que sintam prazer em que as aceite como são. Gosto de me entregar a mulheres simples e bonitas que se entregam. Musas perfeitas não fazem isso.

Gosto de olhos expressivos porque sempre são bonitos, ao invés dos olhos perfeitos que nada expressam ou transmitem. Gosto de olhos normais de mulheres simples que me olham com o brilho de um sol que aquece, àqueles perfeitos que parecem estrelas frias e inacessíveis, apesar do brilho...

Gosto de gemidos naturais, espontâneos e verdadeiros tanto quanto do silêncio, desde que exista energia de lado a lado, ao invés de gritinhos fingidos que não me tocam.

Gosto de mulheres simples e bonitas que se entregam totalmente, que têm freqüência e sintonia afinadas, que pulsem num ritmo de atração, cujas ondas de emoção se encontrem com as minhas e formem um só pulsar, dobrando a emoção do momento.

Se os pés forem bonitos, de preferência pequeninos e mimosos, podem ter uma unha machucada ou a sola um pouco mais grossa, pois denotam caminhadas. Gosto de quem caminha, pois o caminho é sempre árduo para pessoas normais e por isso os que caminham valorizam bem mais os bons momentos de descanso e de prazer. Pés muito perfeitos me dão medo por não conhecerem quaisquer caminhos, de viverem sempre no ostracismo, sempre para o alto.

Gosto de mãos delicadas e limpas, mas não faço questão de unhas perfeitas, apenas  cuidadas. Mãos sempre perfeitas muitas vezes não tocam o que tocam mãos simples, mas carinhosas. Se, além disso, tiverem uma cicatriz de um corte, um calo que demonstra que são mãos que trabalham, eu não me importo: mãos que conhecem o trabalho são mãos de uma sensibilidade que ultrapassa o simples cuidar da pele e tocam e acariciam com dobrado carinho àqueles de quem elas gostam. Mãos sempre perfeitas me preocupam porque descansam demais e provavelmente se cansarão ao primeiro carinho, ao primeiro obstáculo.
Mãos acostumadas à lida são mãos que transmitem a energia que vem do fundo da alma, dos recônditos do coração... 

Gosto de mulheres com corpos que se entregam, sem querer esconder qualquer parte por não ser perfeita, pois a maior perfeição é a total entrega. Sim, adoro mulheres simples e bonitas que se entregam tanto de corpo quanto de alma, pois elas é que na verdade são as mulheres perfeitas!

Roberto Curt Dopheide

6 comentários:

Diário de Interesses disse...

Lindo,tbm não sou perfeita,concordo com o que vc disse,a perfeição engana muito os olhos e o coração.
bjs cunhado do coração

Unknown disse...

adorei, lindo texto!
parabéns

Unknown disse...

adorei o texto....#amigacomenta

Chris Ferreira disse...

Lindo, lindo, lindo o texto.
Mais homens deveriam lê-lo
beijos
Chris
http://inventandocomamamae.blogspot.com/
#amigacomenta

Unknown disse...

Simplesmente maravilhoso!

Bjs
#amigacomenta
http://ktralhas.blogspot.com/
Tuka Siqueira

Unknown disse...

Sinceramente me causou emoção. Obrigado